A comunidade de fãs da Marvel ficou dividida no início de 2017 quando a Sony anunciou que faria um filme solo do Venom. Sobretudo, porque enquanto uma parcela de admiradores do personagem – e do Universo Marvel – ficaram extasiados, uma outra fatia achava a aposta equivocada e até mesmo, oportunista.
Afinal, além da Sony tentar pegar carona no sucesso do recente reboot – à partir da direção criativa do Marvel Studios – do Homem-Aranha, o estúdio também estava ignorando a importância do herói na origem do simbionte.
E pra ser sincero, eu me incluía nesse grupo.
E então, Venom chegou. De tal forma que, dá o pontapé inicial ao que está sendo chamado de Sony’s Universe of Marvel Characters (“Universo Sony dos Personagens Marvel”), o SUMC.
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E pelo que vimos, o resultado final não é tão desastroso como esperávamos. Embora, tenhamos que frisar que o filme apresenta sim vários problemas narrativos e técnicos. Porém, no que compete à adaptação do anti-herói – das HQ’s para o cinema – o resultado é relativamente satisfatório.
Digo isso, pois apesar das falhas, vale o ingresso.
O elenco de Venom
Sobretudo, porque Tom Hardy (Eddie Brock/Venom) entrega uma atuação muito decente no papel do protagonista.
Ao mesmo tempo que, o personagem é exatamente o mesmo que os fãs conhecem das HQ’s. Ora engraçado, ora assustador, o Venom de Hardy é bastante fiel ao Universo Marvel dos quadrinhos.
O que acaba atrapalhando o ator, assim como o filme como um todo, é o roteiro que não se decide quanto ao gênero. Ou seja, os roteiristas – somados ao diretor Ruben Fleischer (Zumbilândia) – apresentam uma narrativa que fica pendulando entre ação, comédia e terror sem entregar uma integração e sincronia satisfatória desses estilos.
Quanto ao restante do elenco, infelizmente, a mesma eficiência (mesmo que parcial) de Hardy não se repete. Com exceção talvez do – apenas regular no longa – Riz Ahmed, que vive o vilão Carlton Drake na história. Isso porquê, ele parece um pouco canastrão em algumas cenas.
Ainda sobre o elenco, a grande decepção fica por conta da quatro vezes indicada ao Oscar, Michelle Willians. Nem tanto pela atuação no papel do interesse amoroso de Brock, Anne Weying, mas principalmente pela personagem completamente descartável que a trama apresenta.
Afinal, ela é extremamente funcional na história, sem profundidade e serve apenas como “gatilho” para que alguns eventos aconteçam.
As maiores falhas de Venom
Diante disso, um dos pontos mais questionáveis de Venom é, com certeza, o seu roteiro. Sobretudo, porque o mesmo é exageradamente simplório em alguns momentos ao nos entregar soluções “mágicas” para a narrativa que acabam por enfraquece-la. Um exemplo disso é o próprio vilão Drake, e a sua Fundação Vida.
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Isso porquê, a ameaça que eles representam tem potencial, mas se torna vazia devido à falta de uma maior profundidade e, em especial, conexão com a realidade.
Ainda sobre os defeitos do longa, precisamos falar das cenas de ação. Por vezes mal trabalhadas nos seus efeitos visuais e também, confusas nas suas montagens, elas desperdiçam ótimas oportunidades de impactar o espectador.
Afinal, o visual do Venom apresenta um potencial gigantesco para as sequências de ação. Porém, isso não é aproveitado da melhor forma no filme. Possivelmente, isso é justificado pela dificuldades da equipe de efeitos visuais ao reproduzir o simbionte nas telas.
Venom e sua estrutura “desequilibrada”
Sobre a questão envolvendo a montagem, o problema se repete no longa como um todo. Isso porquê, o primeiro ato, o de origem do personagem, é bastante arrastado. De tal forma que, quando chega no seu ápice – o frenético terceiro ato – o filme fica extremamente corrido.
Uma pena, afinal, certamente teríamos um resultado muito melhor caso a montagem fosse mais equilibrada. Não é à toa que o próprio Tom Hardy andou demonstrando a sua insatisfação pelo fato do estúdio ter cortado algumas das suas cenas favoritas. Enfim…
O Veredito
Por fim, apesar desses vários “poréns”, Venom não é tão descartável quanto estão dizendo por aí. Principalmente, por ser divertido e contar com uma boa adaptação do anti-herói. Ok, não é uma obra-prima – aliás, como a ampla maioria dos filmes de ação não são – mas oferece uma aventura razoável, que cativa e faz valer a sessão.
Eu sei que pode parecer um pouco contraditório elogiar Venom após pontuar tantos pontos negativos da produção. Mas, caso você não se convença com esses argumentos, encare o filme como um daqueles raros casos de algo que de tão ruim, deu a volta e ficou bom.