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CRÍTICA: Blade Runner 2049 (sem spoilers)

Blade Runner

Diante da estréia da sequência de Blade Runner, um dos maiores filmes sci-fi de todos os tempos, pedimos licença para pausar um pouco a abordagem aos filmes e séries da Marvel, a fim de falar da nova obra envolvendo à caça aos replicantes em uma Los Angeles futurista.

Resumindo para quem não lembra ou não viu o clássico de 1982, Blade Runner é a adaptação para os cinemas do livro de 1968 Do Androids Dream of Electric Sheep? (Androides Sonham com Ovelhas Elétricas?) de Philip K. Dick. Anos depois, com o lançamento do longa, as novas edições atualizaram o título do mesmo para Blade Runner: O Caçador de Androides e posteriormente O Caçador de Androides. Na história, ambientada em uma Los Angeles decadente no ano de 2019, um Blade Runner (unidade especial da polícia que caça androides) chamado Dick Deckard (Harrison Ford) precisa eliminar quatro replicantes – nome dado aos androides – que fugiram de suas colonias extraterrenas para a Terra com o objetivo de descobrir como alongar as suas vidas. Isso porquê, os mesmos são projetados para durarem apenas quatro anos. A Tyrell Corporation é a responsável por criá-los, e utiliza-os como escravos em árduos trabalhos manuais.

1982 X 2017

Por incrível que pareça, Blade Runner foi um tremendo fracasso de bilheteria na época. Porém, com o passar dos anos (e a divulgação de várias versões) ele passou a ser extremamente cultuado junto aos cinéfilos. Muito disso deve-se talvez à maneira como cada nova edição tratou os mistérios não revelados literalmente no filme. Dentre eles, podemos destacar a dúvida sobre a humanidade de Deckard. Ele seria ou não um replicante?

Com a sequência Blade Runner 2049, não só temos às respostas para algumas dessas perguntas, como também nos é permitido visualizar um universo ampliado. Da mitologia envolvendo a obra de Dick às reflexões existenciais que toda a boa história de ficção científica exigem, o diretor Denis Villeneuve (A Chegada) nos conduz à uma jornada cinematográfica empolgante e visceral.

Um novo filme, uma velha estética

Um dos grandes feitos do talentoso diretor no filme, com certeza é a (re) utilização do clima neo-noir presente no clássico de Ridley Scott. Trilha sonora, ambientação, fotografia etc, os principais elementos de Blade Runner estão na sequência. Porém, utilizandos como referências. Villeneuve “não se atreve” à reciclar a obra de Scott, ele simplesmente utiliza alguns artifícios do original com o objetivo de atiçar a curiosidade de novos públicos. Aos fãs antigos, como eu já disse, fica a contextualização respeitosa de algo já admirado.

Vários dos elementos presentes no primeiro longa estão lá: clima chuvoso, ambientes escuros com grandes feixes de luz, a ampliação de Chinatown, neons, arquitetura, figurinos etc. 2049 apenas utiliza os recursos atuais para reforçar a veracidade de cada item presente no universo de Blade Runner. Mesmo assim, essa repetição consegue nos surpreender. Sobre isso, é importante dizer que assistir ao filme de 82 não é essencial, mas ajuda à queimar algumas etapas.

Blade Runner 2049 e as suas nuances

Com um roteiro muito bem desenvolvido, com várias reviravoltas inesperadas, fico de mãos atacadas quanto à possibilidade de abordar alguns dos seus temas. Dar spoilers de 2049 significa estragar boa parte da experiência. Friso apenas que a narrativa amplia a história contada no longa de 82. Embora ainda se trate da jornada de um detetive em um contexto futurista, todas às questões filosóficas envolvendo o polarização entre artificial e orgânico seguem lá. Pois assim como no primeiro, existe a busca constante por “vida”. Esse é o principal norteador de cada personagem e o balizador de suas ações.

Naturalmente, os meios de cada um subjugam o seu caráter, e a passionalidade ao artificial – como subterfúgio – não é ônus apenas para os “vilões”. Nesse cenário, as fagulhas de esperança tornam-se o principal fio condutor do roteiro. Ou seja, as reflexões da vida real são transcritas em uma ficção fantasiosa que utiliza a tecnologia como recurso narrativo. A relação entre K e Joi (Ana de Armas) ilustra perfeitamente esse ponto.

Tudo isso, transferido para a tela com plena sensibilidade por Villeneuve. Como esperado, afinal, em A Chegada o diretor já demostrava a capacidade de transcender o gênero no que compete ao entendimento (e abordagem) das fragilidades de cada personagem na história.

O elenco, liderado por Ryan Gosling (K), faz jus ao roteiro. Mesmo o protagonista, não tão convincente em outras produções, consegue mostrar todo o seu potencial. Jared Leto (Wallace) tem poucos, porém, extraordinários momentos no filme. Ajudado pelo texto soberbo, sua interpretação é irretocável. Já Harrison Ford (Deckard), se destaca nos raros momentos cômicos da história. Porém, entrega atuação dramática quando lhe é exigido.

Veredito

Blade Runner 2049 é tão bom ou melhor que o primeiro. Obviamente, não goza da importância histórica do seu antecessor. E também, não pode ser chamado de “melhor filme de ficção científica de todos os tempos”, conforme profetizaram alguns jornalistas americanos. Mas, é sim uma obra definitiva que deve ser apreciada por todos os amantes da sétima arte.

Digo isso, pois não é presunçoso como os “Interestelares” que vemos por aí (sorry, Nolan). A sequência de Blade Runner é dona de si, respeita o seu universo e é sofisticada dentro dos limites que o seu universo impõe. Com isso, eu não poderia dar outra nota para o filme que não fosse a máxima!

O filme estreia no Brasil no dia 5 de outubro. Saiba mais aqui.

Central Vingadores esteve na sessão especial de Blade Runner 2049 à convite da Espaço Z.

Agradecemos a parceria!

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