Antes de iniciar essa crítica de Pantera Negra, preciso confessar: o filme não sai da minha cabeça. E pra mim, isso é um ótimo sinal. Que obra a Marvel Studios, em conjunto com o diretor Ryan Coogler, nos entregou! Nitidamente temos no primeiro longa solo do Rei de Wakanda um possível divisor de águas no MCU.
Isso porquê, se para alguns a tão falada “Fórmula Marvel” é um problema, transformando o termo em algo pejorativo, em Pantera Negra existe uma clara evolução que por muito pouco não distancia completamente esse rótulo de si. Claro, segue sendo um filme baseado nas HQs da Marvel.
E, ainda existem alguns dos elementos que já vimos em outras produções do estúdio. Porém, no longa que conta a história de T’Challa (Chadwick Boseman) tudo é mais sutil. Pois está devidamente associado ao contexto e a personalidade dos personagens.
Um exemplo disso são as famosas piadas. Se em filmes como Thor Ragnarok e Guardiões da Galáxia tínhamos o recurso do humor como algo quase escrachado, aqui, nas raras vezes em que se apresenta, temos o mesmo de forma mais orgânica. Ou seja, a “piada” é utilizada apenas como forma de expressão de maneira que não destoe das atitudes do seu interlocutor. Shuri (Letitia Wright) é quem melhor personifica isso. Não por se tratar de uma pessoa engraçada e espalhafatosa. Mas sim, por ser muito jovem em relação aos demais. E consequentemente, mais livre para se expressar de maneira extrovertida.
Chadwick Boseman e elenco de Pantera Negra em ótima forma
E já que estamos falando dos personagens, precisamos destacar as atuações soberbas do elenco! Eles simplesmente arrebentam em cena. À começar pelo protagonista, Chadwick Boseman, extremamente carismático e talentoso na maneira como por vezes se expressa perfeitamente apenas através do olhar. Sob a ótica de T’Challa, acompanhamos toda a evolução da história, e o mesmo, cresce junto, mostrando assim um ótimo trabalho de construção desse personagem.
T’Challa evolui juntamente com Wakanda. Em um processo de retroalimentação. Entre os demais atores, vale destacar também o vilão vivido por Michael B. Jordan, Killmonger, que entrega uma das melhores atuações da sua carreira. Com a “faca entre os dentes”, há momentos em que a visceralidade de Jordan consegue roubar a cena.
Ainda sobre os personagens, não podemos deixar de citar a própria Wakanda. Sua riqueza cultural, construída a partir de referências africanas, determinam uma identidade própria ainda não encontrada em outros locais de grande importância no MCU. Assistindo ao filme, fica a impressão de que cada canto da nação africana nos reserva algum elemento pitoresco que queremos conhecer.
Tanto nas suas belas paisagens, como nas caracterizações e tradições de suas tribos. Ambos aliados à tecnologia avançada proporcionada pelo Vibranium, há a transformação de Wakanda em um cenário do MCU que merece ser revisitado.
Um filme com voz própria
E isso ganha força no discurso político que o longa adota. Algo que ainda não tínhamos visto no Universo Cinematográfico Marvel. Se no ano passado vimos Mulher Maravilha adotar um tom semelhante, em Pantera Negra, vemos a evolução e a ramificação na abordagem à pautas sociais importantes. Isso porquê, o filme não se furta de falar de temas como racismo, refugiados, protecionismo etc.
O diretor Ryan Coogler, em parceria com o roteirista Joe Robert Cole, inserem essas discussões com maestria na trama. Pois até nos momentos em que o discurso é mais evidente, existe contexto. E tal cenário é perfeitamente tangibilizado na própria Wakanda e nas reflexões e incertezas que um novo regente tem no momento em que precisa descobrir que rei quer ser.
Coogler e Cole justificam essas abordagens não só no cenário atual, mas também na origem do herói. Para quem não sabe, o mesmo surgiu em 1966, em um momento no qual os movimentos sociais em prol dos direitos civis eram protagonizados pela comunidade negra. Em resumo, o roteiro atualiza com perfeição essa bagagem do personagem.
Ainda sobre as HQs, não há o que se discutir sobre a adaptação em si. Contudo, talvez o único porém sejam os poderes do herói, exagerados em alguns momentos devido ao aparato tecnológico criado por Shuri.
E aproveitando o ensejo dos pontos negativos, precisamos falar também sobre os efeitos visuais. Problema esse que não é novidade nos longas da Marvel Studios. Isso porquê, em Pantera Negra novamente temos cenas de ação exageradamente carregadas em CGI.
Percebe-se em algumas das sequências a já tradicional “falta de peso”. Além claro, da estranha plasticidade dos movimentos das lutas e acrobacias construídas a partir de efeitos visuais.
Veredito!
Por fim, Pantera Negra é sim um filme diferente de todos os outros do gênero. Quero – e muito – uma sequência. E a julgar pelo sucesso de bilheteria e crítica, isso está garantido!
Então, E você? Já viu o filme do Pantera? O que achou?